sábado, abril 29, 2006

Olho a rua deserta, neste dia solarengo
O Azul confunde-me, no céu no rio nos teus olhos
sinto o calor invadir-me lentamente o corpo
mas este caminho tão estreito e cheio de escolhos
não me deixa sossegado,nem tão pouco seguro
estas esquinas que dobro,sem ver o fim das ruas
sempre o mesmo passo, sempre o mesmo vazio
sempre as mãos estendidas em busca das tuas
e a raiva do vento a entranhar todos os cheiros

sexta-feira, abril 28, 2006

Como pensas que se passam os fins de semana de solidão ?
A ver o sado com umas ostras à frente
O sol por companhia e um som de rock
E a cor dos teus olhos na memória
O vinho frio que desliza bem

As mãos que se abrem a este céu
O olhar que se espraia por este tempo
os "amigos " que não víamos há anos
os barcos de pesca que descansam

as minhas amigas gaivotas
devem estar a dormir
nem um pio
nem um voo no horizonte

Para onde enviaram as fábricas de conserva ?
Foram-se com os meus amores
campo repleto de ervas
onde passeei os primeiros anos de vida

Lembro-me ainda dos dias quentes de verão
no comboio para Lisboa ao teu encontro
de repente o puto lá vai, flores na mão
ver a Isa sua primeira paixão

where are the good people go
e o teu olhar fugaz sobre o meu
o gesto o esgar o esboço de um sorriso
o teu corpo sensual

a voz de ópera cheia e potente
e este vinho que me vai esvaziando a alma
Lembro Paris nublado
noites adentro a escrever
todos os outros não contam
muito menos eu
chuva nos cabelos
solex pelas avenidas fora
o jazz no vento que sopra

Onde estás amor que procuro ?
Sabes o que é percorrer as ruas de Paris com chuva miudinha ?
Sentir as pequeninas bátegas de água no cabelo e no rosto ?
Nos pés a força de andar para a frente
Nos olhos por vezes a lágrima da saudade
( trinta e dois anos atrás )
A Man in Paris da Joni Mitchell sempre na memória
Onde estarias nesses dias, amor ausente e desconhecido ?
Porque estariam os teus passos a afastar-te de mim ?
E os meus dedos molhados dedilhavam
numa velha guitarra
um tema do Zeca
Nesse dia de Abril cheguei encharcado à rua de Paradis
Corpo e olhos de lágrimas
Nesse dia choveram lágrimas de saudades nas ruas de Paris
( onde estás velha solex, companheira ? )

Quis dar-te o meu abraço e não estavas
Chamei por ti e respondeu-me o Sena

quinta-feira, abril 27, 2006

Pôr de sol num cruzeiro
aqui do meu quarto
só o tejo, só o sol

e esta chuva que não me deixa

e o barulho que faz aquela máquina
e o eléctrico
e os carros
e uma voz murmurante
e o rádio no quarto ao lado
e os passos no corredor
e a mulher nua a meu lado
que me aquece num dia de solidão
por esta tarde que não acaba
por dentro da raiva do vento
Onde páras que o vento não me diz
Onde andas que as águas tranquilas
só me trazem o teu cheiro

Sempre o sado e a arrábida