sábado, março 26, 2011

O filme

E o Sol que teima em fugir
Mesmo com o canto dos melros de madrugada
mesmo com o coração aberto ao vento
As nuvens continuam persistentes a ensombrar o céu

A luz da manhã abre-me os olhos cedo
Sinto o peso de mais um dia
Os punhais do tempo fazem-me sofrer
Agoniar de todo

Chamo-te ao vento da minha varanda
responde-me o vento que não estás

Chamo-te por entre a multidão da chuva que cai
gritam-me que não te viram

E arrasto-me para mais um dia
mais uma manhã com minutos contados até ao almoço
mais uma tarde com minutos contados até à volta
Depois mais uma noite com o sono até ao cantar dos melros

E no inverno ? que nem os melros cantam ?
E no verão que o sol me visita tão cedo ?
E no Outono que começa a cair o frio ?

Sinto que estás ai algures, mas não queres aparecer
Sinto-te bem perto, mas ao mesmo tempo longe
O teu corpo a tremer do que o meu te possa dar
O meu corpo a tremer do nosso encontro

Penso logo num futuro ideal
No entanto fica o pensamento dentro de mim
faço o filme todo, qual Godard
No entanto não converso com os actores

Assim vou vivendo filmes solitários
Pobre actor isolado na tela que o vento abana
Encosto-me a ti e não estás lá
Nem podes querer um actor solitário
qual cavaleiro que sai correndo em cima do cavalo em direcção ao sol